A visão dos industriais sobre as soluções necessárias para enfrentar problemas globais
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Painéis realizados neste sábado (5) no Fórum Empresarial do BRICS debateram estratégias para transição energética, comércio e segurança alimentar, transição verde e financiamento. O Fórum Empresarial do BRICS reuniu neste sábado (5), no Rio de Janeiro, empresários de grandes indústrias dos países membros para debater temas relevantes à agenda de desenvolvimento das nações que integram o bloco. Confira o que disseram os CEOs nos painéis realizados ao longo do dia.
Transição energética e descarbonização “Ninguém sente mais os impactos das mudanças climáticas do que os agricultores — e eles são essenciais para a segurança alimentar global. Estamos investindo pesado em pesquisa para aumentar a resiliência no campo e desenvolver soluções como micro-organismos que ajudam a armazenar carbono no solo. Se recompensarmos quem produz e ainda ajuda a descarbonizar o planeta, estaremos valorizando quem realmente pode salvar o mundo”, destacou Jai Shroff, CEO Global da UPL. “Somos 45% da população global e 30% do PIB mundial — temos abundância de recursos e estamos determinados a desenvolver de forma sustentável. Só a China já atingiu a meta de 1.200 gigawatts em energia solar e eólica que era prevista para 2030, seis anos antes do prazo. Estamos reduzindo custos, aumentando a eficiência e tornando a energia verde mais acessível. Levar essa transição a sério é uma prioridade real”, disse Zhao Haiying, vice-presidente executiva da China Investment Corporation. “Desde a COP27, o Egito assumiu o compromisso de avançar o mais rápido possível para uma economia verde. Já iniciamos o fechamento de indústrias com altas emissões e estamos substituindo por fábricas mais eficientes, que utilizam energia solar, hidrelétrica e eólica. Com apoio de parceiros do BRICS, conseguimos desenvolver parques eólicos e estamos investindo fortemente em painéis solares. Acredito que, se unirmos esforços como bloco, podemos fazer a diferença na descarbonização global”, contou Marianne Ghali, diretora geral da Qalaa Holdings e da Grandview Investment Holdings. “Na África do Sul, assumimos um compromisso firme com a descarbonização. Mais do que assinar acordos internacionais, desenvolvemos uma estrutura prática e inclusiva para guiar esse processo, envolvendo o governo, setor privado e sociedade civil. Cada novo projeto no país precisa seguir uma avaliação ambiental criteriosa. Isso garante que qualquer desenvolvimento ocorra com responsabilidade climática, sem travar o crescimento econômico”, apontou Thabani Zulu, diretor executivo da Richards Bay Industrial Development Zone. “Há 40 anos atuamos na Amazônia como mineradora, dentro de uma floresta nacional e em parceria com o ICMBio. Hoje, 60% da nossa produção vem de um minério de alta qualidade, essencial para reduzir emissões no setor siderúrgico. Atuamos em um mosaico de 800 mil hectares, com mais de 22 mil nascentes e 3 mil espécies preservadas. Carajás mostra que é possível uma mineração legal e responsável, aliando produção e conservação. Falar de floresta é também falar de pessoas”, disse Patrícia Daros, diretora de Soluções Baseadas na Natureza da Vale. “A DP World atua diretamente na logística, responsável por cerca de 24% das emissões globais de carbono — sendo 11% só do transporte rodoviário. Por isso, a mudança para modais como ferroviário e marítimo, que emitem até 45% menos, é essencial. Promovemos o transporte multimodal, que reduz custos e emissões, e apoiamos a adoção de veículos elétricos e combustíveis renováveis”, explicou Rizwan Soomar, CEO DP World Subcontinent & MENA.
Comércio e segurança alimentar “Sem segurança alimentar, nenhuma outra forma de segurança é possível. Os países do BRICS têm grandes reservas e capacidade de produção. A Rússia, por exemplo, produz 1,2 bilhão de toneladas de trigo e consome apenas 220 milhões. Ainda assim, apenas um quarto dos alimentos importados pelos BRICS vem de dentro do próprio grupo. Se integrarmos melhor nosso comércio, podemos atender a 100% dessa demanda e ainda exportar”, apontou Sergey Katyrin, presidente da CCI RF. “O Brasil é uma superpotência agroalimentar com credibilidade internacional. Segurança alimentar exige confiança entre países e reguladores. Para fortalecer o BRICS, precisamos: alinhamento regulatório transparente e científico; cooperação técnica entre governos e setor privado; e sustentabilidade com rastreabilidade, evitando desmatamento e trabalho ilegal”, disse Helena Romeiro de Araújo, head de Relações Governamentais da BRF/Marfrig e diretora executiva do Instituto BRF. “É fundamental criarmos um sistema de aceitação mútua de certificações. Hoje, a aprovação de um componente químico pode levar até cinco anos em outro país. Se reconhecermos as certificações entre os BRICS, poderemos acelerar a produção e fortalecer a segurança alimentar global”, disse Mikhail Sterkin, vice-CEO de Vendas e Marketing da PJSC PhosAgro. “Infelizmente, enfrentamos procedimentos complexos nas fronteiras, infraestrutura ultrapassada, barreiras tarifárias e não tarifárias. Isso tudo eleva os custos e limita oportunidades, principalmente para pequenas empresas, mulheres e jovens. O Conselho Empresarial do BRICS já recomendou a redução dessas barreiras e a digitalização do comércio. Mas precisamos também enfrentar os riscos da digitalização”, apontou Busi Mabuza, presidente do Conselho da Industrial Development da África do Sul. “O que precisamos é reforçar os sistemas dos países BRICS. Criar um sistema padronizado e interoperável nas fronteiras, desenvolver corredores integrados digitalmente por terra, ar e mar. Quando houve a crise no Mar Vermelho, reagimos rápido: ativamos uma rota passando do Paquistão ao Uzbequistão via Afeganistão. Em apenas 10 dias, levamos cargas por estrada e trem, reduzindo o tempo de entrega de 40 para 10 dias. Isso mostra que alternativas existem — só precisam ser acionadas com agilidade”, exemplificou Sultan Ahmed bin Sulayem, Diretor Executivo e Presidente da DP World.
Competências para a transição verde e digital “Nossa estratégia é adotar tecnologia de forma proativa para melhor atender nossos clientes. Nós temos cerca de 10 mil engenheiros na China, e cerca de mil deles são engenheiros de algoritmos. Então desenvolvemos algoritmos robustos para casar bem os pedidos e para que todos recebam suas entregas mais rapidamente”, contou Qiu Guangyu, CEO da Keeta. “A indústria carece de pessoas e profissionais. É importante tentarmos desenvolver conjuntos de habilidades, mas o mais importante é a capacitação e a requalificação. As habilidades estão em constante transformação e se você não entra nas mudanças, está fora do negócio”, disse Onkar Kanwar, presidente da Apollo Tyres. “Na Rússia, a participação das mulheres no setor educacional do país chega a 82% e o percentual de mulheres entre médicos é de 70%. Nos países do BRICS, apesar de melhorias em educação e emprego, as mulheres são sub representadas e enfrentam barreiras. Na área de inteligência artificial, o percentual de mulheres é de apenas 22%”, destacou Anna Nesterova, fundadora da Palekh Watch. “A transição verde e digital, uma alimenta a outra. Essas duas transições vão acelerar a sustentabilidade na empresa e têm impacto em todos os setores da economia. Produzem um impacto positivo no crescimento e no desenvolvimento do país como um todo”, explicou Majid Ghassemi, CEO do Bank Pasargad, do Irã.
Indústria e saúde Financiamento para a agenda de desenvolvimento do BRICS “A lacuna global de financiamento ao comércio chegou a mais de 2 trilhões de dólares em 2024, e pequenas e médias empresas são as mais afetadas — cerca de 50% dos pedidos de crédito são rejeitados, principalmente por falta de garantias. O modelo tradicional bancário não atende bem as PMEs. Por isso, acreditamos que a solução está em um sistema que integre logística, bancos, governo e empresas, permitindo precificar melhor os riscos e ampliar o acesso ao financiamento”, disse Raj Jit Singh Wallia, CEO & MD DP World Central Asia. “Estamos diante de uma grande oportunidade: falar de programas sociais, economia verde, energias renováveis e desenvolvimento inclusivo. Vejo três frentes de solução. Primeiro, os instrumentos. Temos fundos multilaterais que já vêm investindo no Brasil em projetos verdes. Segundo, precisamos destravar capital com melhor governança, parcerias estratégicas entre bancos de desenvolvimento e investimentos na força de trabalho e inclusão digital. E terceiro, o papel do NDB. Com bons projetos, conseguimos avançar — especialmente no apoio às pequenas e médias empresas”, apontou Francisco Lassalvia, vice-presidente do Banco do Brasil. “Precisamos de ambientes que realmente permitam o acesso ao crédito. O que vemos são barreiras sistêmicas — os sistemas macroeconômicos acabam inibindo o financiamento, especialmente o de longo prazo apoiado por bancos de desenvolvimento. A forma como o risco é avaliado hoje não permite uma alocação adequada, tornando os contratos caros e, muitas vezes, ineficazes”, alertou John W.H. Denton, secretário-geral da Câmara de Comércio Internacional. “Precisamos apoiar setores que enfrentam mais dificuldade em reduzir carbono — isso gera empregos, aceitação social e crescimento sustentável. A transição verde não significa custo maior; ela identifica empresas mais eficientes e rentáveis. O governo deve enviar sinais claros ao mercado e oferecer incentivos, como o Banco Central da China, que financia o setor de transportes com juros baixos. E a tecnologia, como a inteligência artificial, tem papel essencial na avaliação de riscos e na condução de uma transição mais segura e eficiente”, disse Yang He, presidente do Instituto de Pesquisa em Finanças Modernas do ICBC. “Estamos no BRICS, mas seguimos tentando nos encaixar em um sistema financeiro antigo. Precisamos desaprender, reprojetar e estabelecer uma nova arquitetura que reflita a agenda do bloco”, disse Lebogang Zulu, presidente do Conselho do Africa Women’s Bank. “Precisamos pensar fora das lógicas tradicionais e criar sistemas financeiros inclusivos desde a origem — sensíveis às realidades diversas e ao potencial transformador das mulheres empreendedoras. No Brasil, o FAMPE (Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas), que gerenciamos no Sebrae, já alavancou mais de 6 bilhões de dólares em crédito para pequenos negócios, com foco especial em mulheres em situação de vulnerabilidade. Quando há crédito com suporte técnico, elas têm índices de sucesso impressionantes”, ressaltou Margarete Coelho, diretora do Sebrae. Sobre o Fórum O Fórum Empresarial do BRICS é uma plataforma para o avanço da cooperação diante dos desafios globais que reúne esforços dos países membros para promover uma agenda baseada em inovação, sustentabilidade e inclusão econômica. O evento conta com os patrocinadores XCMG, DP World, Keeta, WEG, Embraer, Vale, Febraban, Mebo International, Marfrig/BRF, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Social da Indústria (SESI) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL), além do apoio institucional do Conselho Nacional do Sesi, da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), da Natura, do SEBRAE, da ApexBrasil e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Fonte: Portal da Industria |
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