Diálogo e estratégia contra a política comercial de Trump
![]() ![]() |
Em artigo publicado no jornal O Globo, o presidente da CNI, Ricardo Alban, explica que a política comercial dos EUA eleva as tarifas e ameaça relações com o Brasil. O segundo mandato de Donald Trump marcou o retorno da política comercial America First com mais pressão internacional. Em fevereiro, os Estados Unidos lançaram o plano de comércio “justo e recíproco” e intensificaram o uso de tarifas de importação para conter o déficit comercial e impulsionar a indústria doméstica. As novas medidas vêm acirrando tensões comerciais globais, provocando ameaças de retaliação e ampliando a incerteza econômica. Sem recuo, essas ações tendem a enfraquecer as cadeias globais de valor, alterar fluxos comerciais, elevar a inflação e forçar altas nos juros — fatores que afetam diretamente o crescimento mundial. A parceria econômica entre Brasil e EUA é estratégica, com fluxos robustos de comércio e investimentos. Os EUA são o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira e lideram como origem e destino de investimentos bilaterais. Em 11 dos 20 principais produtos exportados pelo Brasil, somos o maior fornecedor do mercado americano. A decisão dos EUA de aplicar tarifas adicionais de 10% sobre produtos brasileiros, além de taxar adicionalmente setores específicos, é preocupante. Embora os EUA mantenham superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos — totalizando US$ 256,9 bilhões na última década quando se consideram bens e serviços —, o governo norte-americano optou por barreiras que comprometem essa relação historicamente vantajosa. A alta das tarifas nos EUA tende a elevar o custo de produtos importados, pressionar a inflação e manter os juros elevados por mais tempo. O impacto recai sobre o Brasil, com efeitos sobre a taxa de câmbio, inflação e crescimento. Se o diferencial de juros entre Brasil e EUA cair, o real tende a se desvalorizar, o que pode forçar o Banco Central a manter juros altos, dificultando ainda mais a retomada econômica. Diante disso, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem atuado com estratégia. Do ponto de vista técnico, iniciou o monitoramento das tarifas e desenvolveu ferramentas para avaliar impactos sobre exportações e importações. No plano institucional, articula junto ao Congresso para modernizar instrumentos jurídicos eficazes para reagir a práticas comerciais unilaterais, participa de consultas públicas com análises e argumentos técnicos nos EUA e coordena posições com o governo brasileiro. A postura da CNI se baseia na capacidade da indústria de influenciar políticas comerciais com base em dados, diálogo e estratégia. Ainda assim, o Brasil se vê inserido em um tabuleiro geoeconômico volátil no qual a previsibilidade do comércio internacional vem sendo substituída por uma lógica de barganha e incerteza. Estudos iniciais apontam para impactos globais expressivos. Um relatório da UFMG estima que a guerra comercial pode reduzir o PIB mundial em US$ 205 bilhões e o comércio em US$ 502 bilhões. O Brasil pode ser afetado negativamente, sobretudo na indústria. Enquanto oportunidades criadas pela reorganização de cadeias produtivas podem beneficiar alguns setores brasileiros, riscos de redirecionamento de importações provenientes de outras economias preocupam outros setores. Ainda é cedo para dimensionar a extensão desses impactos, mas nesse cenário global em transformação, o Brasil precisa fortalecer sua política industrial, estímular à inovação e aprofundar a integração internacional orientada por sustentabilidade e competitividade. Nesse sentido, o Brasil deve manter disciplina, visão estratégica e uma atuação institucional eficaz. A CNI seguirá como comprometida aliada na defesa da indústria nacional — pronta para contornar eventuais desafios e aproveitar as oportunidades. *Ricardo Alban é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O artigo foi publicado no jornal O GLOBO, no dia 28 de abril. REPRODUÇÃO DO ARTIGO - Os artigos publicados pela Agência de Notícias da Indústria têm entre 4 e 5 mil caracteres e podem ser reproduzidos na íntegra ou parcialmente, desde que a fonte seja citada. Possíveis alterações para veiculação devem ser consultadas, previamente. Fonte: Portal da Industria |
Moeda | Cotação | Data |
Dolar | 5,65 | 29/04 |
Euro | 6,45 | 29/04 |
Risco País | (CDS) | Data |
Brasil |
182.49 |
29/04 |
![]() |
Siga-nos nas redes sociais |